Vamos então começar pelo princípio. E para isso urge uma declaração de interesses e de desinteresses. Vamos por pontos. Depois o sumo.
- A justiça não se pratica na comunicação social (há excepções, sim, mas que não acolhem o caso a que me refiro).
- Um Juiz não dá entrevistas nem se pronuncia, ao de leve que seja, sobre casos que tem em mãos, tentando fazer prova da sua dignidade e aptidão.
- Por igual razão (não maior, mas igual), o Juiz que tem em mãos a Operação Marquês não dá entrevistas. Ainda que não fale do caso, fala do caso, ao dizer do quão isento é. Do quão digno é. Quando assevera que as pessoas não o devem temer. Temo um Juiz que publicamente garante que não o devemos temer.
- Nas últimas eleições em que Sócrates foi eleito, não só votei nele como fiz campanha por ele.
- Hoje, e nada do que digo tem a ver com a actual situação do ex-PM, mais facilmente aceitaria uma injecção na testa do que votaria nele (é fácil apontar um erro, mais difícil é reconhecê-lo). Mas a minha questão é política, nada mais.
- Apesar de o Sócrates ter sido melhor do que o que veio a seguir (seria uma impossibilidade material não o conseguir), não votei Sócrates nas eleições em que ele pôs o umbigo a votos.
- E escuso-me de dizer das minhas razões para ter, então, votado diferente (certamente não no coelho). Não vem a propósito, e já gastei demasiados pontos com Sócrates (e apenas o fiz porque sei do que a casa gasta – este artigo é sobre um juiz, não sobre Sócrates).
- É de Justiça que pretendo falar. Nada tem a ver com Sócrates. Tem tudo a ver com outro homem-umbigo. Por acaso, não fosse o acaso, têm jeitos de best friends forever.
- Há aqui um pormenor curioso, e que me une ao Juiz Alexandre. Nem eu nem ele julgaremos a operação marquês. Eu porque sou Advogado. Ele porque escolheu ser o que é.
- A latere, o juiz em título está a fazer um belíssimo trabalho, ele e o Procurador Teixeira, para que o Sócrates acabe absolvido. Tamanha a pesporrência processual. E isso também me aborrece.
Feito o sumário, vamos lá à matéria. À minha matéria, à minha opinião. A opinião de quem se subscreve, apenas. Não falo em nome de partidos. Não milito em nenhum, embora ultimamente tenha votado no Bloco. Não pertenço à Opus Dei nem à Maçonaria. Tendo em conta a forma como o juiz hoje se apresentou, é-me legítimo questionar se ele pode dizer o mesmo, é-me até legítimo apostar que ele não é maçon (posso, obviamente, saber mais do que pareço saber, ou até saber nada).
A partir do momento em que um Juiz – os media chamam-lhe super-juiz e não faço ideia se a questão lhe foi colocada, e se ele a refutou; que não sou adepto de pornografia judicial nos media (já me chega a “ao vivo”) – se expõe assim, eu ganho uma legitimidade que não tinha.
O meritíssimo passa a ser um homem que falou em público. Mais um. E desceu do estrado. Estamos agora à mesma altura (terá vexa minguado ou eu crescido). Bem-vindo à realidade. vexa colocou de lado a magistratura e resolveu guiar-se pelo enorme umbigo que ostenta. Não falando – e quero crer que não o fez – no caso que ora o faz rei, questiono. Tenho curiosidade, não sei se vexa esclareceu tal facto na entrevista, em saber se acaso recebeu autorização do Conselho Superior de Magistratura para esta novela em que hoje aceitou entrar. Às tantas, não é preciso. Mas coloco a questão por um motivo simples, não sei se enderece a queixa que amanhã mesmo farei ao Provedor de Justiça ou ao CSM ou a ambos. Por certo questionarei a Ordem dos Advogados (e valerá apenas como conselho) sobre o que hoje se passou.
Qual queixa? Não tens mesmo vergonha nenhuma, pá! Até o juiz motoqueiro do processo casa pia conseguiu ser melhor. O que não faz de nenhum de vocês um juiz. Um Juiz, insisto, não aparece em horário nobre na televisão. Os juízes não têm partido, não têm religião, não têm sexo, não têm cor, não pertencem à opus dei ou à maçonaria, não têm preferências sexuais. O homem por trás do juiz poderá ser e ter tudo isso. Será cristão, branco, macho, facho, usará cilício, será homofóbico (não isto, espero). Não são contas do meu rosário. A merda é quando eu sei de uma entrevista dada pelo Carlos Alexandre e sei (recebi um briefing, entretanto) que esteve ali um tipo que é juiz. E que felizmente julga a um nível intermédio. O que, lamentavelmente, chega para findar vidas.
Vamos lá então falar, de Advogado para isso que hoje vexa foi. Contar histórias. Não posso. Vês a diferença? Não devo. E nem quero. Acho que já passei a mensagem que queria passar. O que nos distingue, Carlos-homem, é que eu creio e luto pelo artigo segundo da nossa Constituição. A única ordem que me obriga, para além do fazer por ser um homem justo, é a Constituição.
Não sei se o Dr. Carlos ou o Juiz Alexandre podem dizer o mesmo. E a merda é essa, pá. Quem raio deu a entrevista? Foi o Juiz, o Dótor, o tipo da opus dei? Corre nos mentideros que és da opus. És? É que a partir de hoje, eu posso questionar isso. Ouvi dizer e não quero crer. O que se segue? O correio da manha? Uma entrevista à nova gente (nem sei se essa merda ainda existe).
Vexa abriu o flanco. E eu vou aproveitar. Sou Advogado, não só dos meus clientes. Mas também da res publica. E que pena não ter vexa levado o procurador Teixeira. Vexa lava, ele amacia.
Era só. E lembre-se, vexa. Um Juiz não dá entrevistas. Não pode. Um dia pode ter de julgar o entrevistador, percebe? Mas não é apenas por isso. E não, não vi a entrevista. Nem verei. Mas sei que a deu. Sei como foi anunciado. E sei quem vexa é.
Li agora que asseverou: “Não sou pessoa de quem ninguém deva ter medo. Tenho 1,69 metros no bilhete de identidade, agora estou um pouco mais magro.” Sério? Tem vexa noção da enormidade que as v/ palavras encerram? Estás mesmo a gozar o prato. Comigo e com a República. Vexa é um péssimo exemplo, sabe? E ainda ontem recebi um despacho que é a sua cara (e sim, segue mais uma queixa). E isso me dói.
Porque a Democracia e a República merecem Juízes. E o que vexa hoje fez é grave. Demasiado grave. E insisto. Não vi, nem verei a entrevista. Tamanha a gravidade. E ainda me custa a crer que a dita não seja produto da minha imaginação. Sabe como foi lida a coisa? O Juiz do Sócrates deu cabo do gajo. Acha vexa esta merda normal?
“Não tenho dinheiro ou contas bancárias em nome de amigos”? Li agora no DN que vexa vomitou tais palavras. Isso é coisa que um juiz diga num processo que está a julgar, ainda que em fase instrutória? Ou achas mesmo que o formalismo impede as gentes de perceberem de quem falas? O homem – e insisto nos pontos acima elencados; ou ainda me arranjam lugar no marquês – de quem falas é o homem que tens nas mãos (e essa acusação a duas mãos, sai ou não sai?). E isso não é bonito. E crê, umbigo, diria o mesmo se fosses tu o arguido.
Era só. Ganha vergonha. Que eu estou cheio dela, pelo que hoje fizeste. [este “tu” com que entremeei o meu texto? Não o confunda vexa, pois assim trato os meus amigos. É de nojo, mesmo, este “tu” de teclado].
Obviamente, amanhã farei tudo o que acima disse. Para que conste. E só mais uma coisa, vexa; a forma como aparece na imagem faz-me sorrir. E quiçá? Quiçá um dia o feitiço se vira contra o feiticeiro. E sou um crente no Estado de Direito Democrático. Apesar de vexa. Ou precisamente por causa de vexa.